03/04/2013

FALAR EM SAUDADE


Saudade(por Martha Medeiros)

A dor que mais dói...
"Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um estalo, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na esquina da mesa, dói morder a língua, dói
cólica, cárie e pedra no rim.

Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma brincadeira de infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.
Mas a saudade que mais dói é a saudade de quem se ama.

Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro
sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é basicamente não saber.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquele perfume.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada.
Se ele continua a trabalhar no relatório.
Se ela aprendeu a dirigir.
Se ela continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados.
Se ele continua abraçando tão bem.
Se eles continuam gostando das mesmas músicas.
Não saber se ele continua amando.
Se ela continua a chorar até por qualquer bobagem.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, com os finais de semana que já não tem o mesmo colorido.
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento.
Não saber como conter as lágrimas diante de uma música.
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber ..."

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